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Quinta-Feira, 26 de Setembro de 2019 às 17:38

Sob suspeita de maus tratos, bebê sai do hospital direto para abrigo

Angelica Conceição não vê o filho, de dois anos, há quase um mês. "Estou sendo vítima de injustiça, meu bebê precisa de mim", lamentou.

Duração: 04:34

O bebê de dois anos, internado em estado grave em julho após um suposto engasgamento com leite e, posteriormente, diagnosticado com lesões na cabeça, foi afastado do convívio familiar e está abrigado em uma casa lar do Projeto Teia. O pedido partiu do promotor da Infância, André Luís de Souza, que suspeita de maus tratos, e foi aceito pelo juiz Evandro Pelarin.

O menino saiu do Hospital da Criança, no dia 30 de agosto, direto para o abrigo, sem possibilidade de visita dos pais. Angelica Conceição, que não vê o filho há quase um mês, procurou a Justiça para tentar reverter a decisão, mas não foi ouvida.

Segundo a mulher, o promotor da infância, André Luis, se baseou em dois laudos para decidir pelo afastamento. Um foi da assistente social do HCM.

"Ela colocou no relatório que há 40 dias meu filho era cuidado pela minha cunhada. Eu preciso trabalhar, então deixava o Heitor com ela cedo e pegava a noite. Só que o promotor entendeu como abandono. Eu nunca dormi sem meu bebê. Só o deixei com outra pessoa por necessidade, assim como ele vai para a creche", explicou.

Outro documento, segundo Angélica, foi emitido por uma médica da Santa Casa de forma equivocada.

"Poucos dias antes dessa última internação, levei o Heitor para a Santa Casa com sangramento no ouvido. A médica suspeitou que ele tivesse caído, e colocou isso no prontuário. Mas depois ele fez exames de imagem que descartaram qualquer lesão e a médica não atualizou o prontuário. Meu filho só estava com infecção de ouvido e sangrou porque ele tem otorragia desde que nasceu".


O pequeno Heitor foi admitido no Hospital da Criança no dia 16 de julho, já entubado por enfermeiros da UPA Norte. Ele estava sendo cuidado pela babá, que é cunhada de Angélica. Equipe médica do Hospital da Criança identificou que o pequeno apresentava dois traumatismos na cabeça, sendo um antigo e outro mais recente.

Ele tinha passado o final de semana na casa do pai, que mora em Fernandópolis. Como os genitores são separados, foi a primeira vez que o bebê ficou sozinho com o pai e a madrasta.

No HCM, uma neurologista informou Angélica que Heitor apresentava a síndrome do bebê sacudido, situação que realmente ocorreu. Quando o bebê começou a convulsionar, a babá acreditou que ele estava engasgado.

O procedimento equivocado, ainda que realizado na tentativa de salvar o pequeno Heitor, provocou sequelas graves: paralisou o lado direito do corpo da criança.

A delegada Cristina Spir, que preside o inquérito de maus tratos pela Delegacia de Defesa da Mulher está enfrentando grande dificuldade para elucidar o caso.

"Nós já ouvimos os familiares duas ou três vezes, mas cada um fala uma coisa, ou não assume nada. Ou não viu nada. É uma situação muito delicada porque o futuro dessa criança depende do resultado dessa investigação", explicou.

A delegada espera concluir o inquérito nos próximos dias.

Já o juiz Evandro Pelarin disse que o afastamento temporário da família é uma medida de segurança até que seja esclarecida as circunstâncias que ensejaram os problemas de saúde do bebê.

"É tudo muito recente ainda, as provas não chegaram ao processo. Vamos marcar uma audiência para conversar com a família, analisar os laudos e decidir se a criança será desabrigada ou se o acolhimento ainda será mantido"


Angélica já ingressou com pedido para reaver a guarda do filho e também com documentos e testemunhos que descartariam a suspeita de abandono de incapaz.

A reportagem não conseguiu contato com o promotor André Luis.

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