A Justiça decidiu que deve ir à júri popular o ajudante
Bruno Henrique Vasconcellos de Oliveira, de 21 anos. Denunciado por duplo
feminicídio, ele matou a namorada e a mãe dela em setembro do ano passado no
bairro Estância Santa Clara, em Rio Preto.
A sentença de pronúncia foi publicada neste fim de semana
pela juíza da 3ª Vara Criminal, Carolina Marchiori Bueno Cocenzo.
Ela aceitou
integralmente os termos da denúncia, feita pelo Ministério Público, de duplo
homicídio com quatro qualificadoras: motivo torpe, meio cruel, recurso que
impediu a defesa das vítimas e em razão da condição do sexo- o chamado
feminicídio.
Segundo informações do processo, Bruno não aceitava o fim do
relacionamento com a jovem Sílvia Dayane Gomes, de 22 anos. O casal namorou por
apenas oito meses e a vítima decidiu romper em razão do temperamento
controlador do rapaz. O estopim, de acordo com familiares, foi quando Bruno
pediu que Dayane transferisse dinheiro dela para a conta dele.
Após o rompimento, Bruno passou a visitar diariamente a
moça, na tentativa de convencê-la a reatar o relacionamento, assim como foi na
data do crime.
Preso no Centro de Detenção Provisória, ele escreveu uma
carta para o advogado Luciano Macri revelando detalhes inéditos sobre a
dinâmica dos fatos. Entre eles, que enviou mensagem para Dayane avisando que
estava indo na casa dela, e que a faca utilizada no duplo feminicídio teria
sido tirada da mão da namorada. O que afastaria a hipótese de premeditação.
O defensor leu a carta na íntegra para a reportagem da CBN, que separou dois trechos. O primeiro deles fala sobre o término do
relacionamento e a briga que resultou do anúncio definitivo de separação.
“Brigamos por whatsapp durante toda a madrugada porque ela me acusava de traição. Quando amanheceu, fui até a casa dela levar café da manhã, mas a Dayane não me recebeu. Voltei para casa e depois do almoço enviei mensagem avisando que estava indo na casa dela para a gente conversar. Parei meu carro de ré em frente ao portão, porque estava com gaiola na perna e usando muletas, então andaria menos. Queria conversar lá fora para a mãe dela não interferir, mas a Dayane insistiu que eu entrasse. Ela afirmou que preferia terminar o namoro. Aceitei e pedi meu celular de volta. Porém, antes de entregá-lo, ela disse que iria resetar o aparelho. Foi quando percebi que ela estava apagando conversas com um homem. Questionei. Num primeiro momento ela ficou nervosa, mas depois acabou assumindo que estava me traindo. Proferi xingamentos e ela me ofendeu também. Quando eu estava indo embora, a Dayane me empurrou e eu caí. Então ela foi na cozinha e pegou uma faca. Entramos em luta, tomei a faca dela, aí eu já não me lembro de mais nada”
A dona de casa Silvana Gomes, de 44 anos, tentou proteger a
filha e também foi atacada. A mulher morreu no local. A jovem ainda foi
socorrida com vida, mas morreu no Hospital de Base, horas depois.
Bruno fugiu de carro. No percurso disse que tentou ligar
para a Polícia Militar e foi até o antigo Plantão Policial, porque não sabia
que estava desativado.
“Tentei ligar várias vezes para a polícia, mas depois percebi que a Dayane tinha tirado o chip do celular. Então fui até o Plantão, do lado do cemitério da Ercília, mas não sabia que tinha mudado de endereço. E não sabia onde estava funcionando, então vaguei pelas ruas até me lembrar da minha patroa e decidi ir ao meu trabalho pedir conselho para ela. Lá em frente a polícia me encontrou e me entreguei. Estou muito arrependido, jamais desejei tirar a vida de alguém”.
Bruno revela na carta que, dois meses antes da tragédia, Dayane
já teria puxado a faca para ele durante uma discussão na casa do rapaz.
“Me acertou nas costas, eu ainda tenho a cicatriz. Minha mãe
está de prova. A Dayane era muito ciumenta”.
Mãe e filha foram veladas e sepultadas juntas.
Em trecho da sentença, a juíza Carolina Marchiori entendeu
que as qualificadoras não podem ser afastadas, já que os depoimentos revelam indícios de sua existência. “Não se pode avançar em tal análise,
sob pena de invadir a competência privativa do Conselho de Sentença”.
Em razão da repercussão do crime, o rapaz aguarda julgamento em cela separada.
O advogado Luciano Macri adiantou que vai pedir a reconstituição do crime para tentar afastar algumas qualificadoras. Ele ainda pode recorrer da pronúncia.
Clique no play e ouça a transcrição da carta