Desde pequena, a professora Roselene Lopes via a avó fazer arte com as próprias mãos e seguiu os mesmos caminhos. Com linhas e agulhas e, claro, muita criatividade, ela aprendeu a fazer patchwork, um tipo de técnica que utiliza retalhos emendados por meio da costura criando uma peça única de artesanato. Os anos se passaram, ela cresceu, se tornou professora e o tempo para se dedicar a algo que tanto gosta foi ficando cada vez menor. Mas, agora ela deu uma pausa na rotina porque está afastada do trabalho devido à pandemia de coronavírus. Em meio ao caos, ficar em casa trouxe algo de bom: retomar uma das coisas que mais gosta de fazer.
“O trabalho ocupa tempo. Como professor precisamos nos dedicar muito, estudar sempre. Então, eu não tinha tempo para muitas coisas. Agora, com o afastamento do trabalho, eu retomei a fazer o patchwork, que é uma distração, uma terapia. Eu acho que quem tem algum projeto que possa aproveitar este momento deve se empenhar, fazer e se sentir mais feliz”.
E tem muitos outros projetos saindo da gaveta por aí. Érica Toledo ficou desempregada pouco antes da pandemia. Ela sempre quis mostrar para outras mulheres como foi importante para ela o autoconhecimento. Hoje, ela passa por uma transição capilar e criou redes sociais com dicas de beleza e autoaceitação para o público feminino. Com a quarentena, a única alternativa foi se reinventar, distrair a cabeça e colocar em prática o que antes não dava tempo.
“Eu não tinha disponibilidade e nem coragem para por em prática. Esse projeto é dedicado às mulheres, à beleza e cuidados com o cabelo, porque eu estou passando por uma transição capilar agora e quero transmitir isso para outras. Eu acredito que tanto tempo em casa nos ajuda a ter ideias, pensamentos e refletir sobre o que queremos fazer. Ao menos para mim está sendo ótimo neste aspecto”.
O músico da banda de rock
rio-pretense, Gplay, Marcos Rogério Arantes, foi diretamente afetado com a
pandemia. Os shows, pararam. O que restou foi retomar algo que sempre gostou de
fazer, mas que não tinha mais tempo para se dedicar. Ele recuperou do armário
uma paleta de cores, pincel e tela e relembrou o quanto gostava de pintar.
“Apesar de também trabalhar com grafite, há muito tempo atrás eu pintava tela. Agora, com os shows parados por conta da pandemia, eu voltei a pintar. Ao mesmo tempo é um trabalho e uma terapia. Era algo que eu amava fazer e já tinha ideia de voltar, mas não conseguia tempo suficiente. Por mais que uma pessoa pense que não, ela sempre vai ter algum talento “escondido” que a complete. Este é o momento de se (re) descobrir”.
E tem também a história da Maria Eduarda Lima, que trabalha como analista de faturamento no hospital de Olímpia. Por conta da pandemia ela está indo apenas 3 dias da semana ao trabalho. E por estar mais em casa tem mais tempo está conseguindo voltar a desenhar. Antes ela fazia um desenho a cada 15 dias, agora, são pelo menos 2 na semana. Ela atribui a oportunidade à pandemia e ainda deixou uma mensagem de um dos maiores pintores do mundo.
“Eu voltei a desenhar, que é uma coisa que eu gosto muito de fazer. Comecei desde nova, nada profissional, mas estou me aprimorando a cada dia mais. Acredito que foi por causa da pandemia, para espairecer um pouco, fugir do foco dessa doença. Sinto-me muito feliz e realizada quando estou desenhando, porque acredito que é um dom, de certa forma. Pablo Picasso disse que ‘o sentido da vida é encontrar um dom e o propósito da vida é compartilha-lo’. Então se você encontrou seu dom, seja qual for, compartilhe e seja luz no mundo”.
Os especialistas não
sabem quando vamos voltar à vida "normal". E nem se ela será como antes. Mas
neste momento, jamais vivido, tudo tem sido repensado; não apenas a ciência, a
estrutura de saúde e as políticas governamentais, mas também o que existe em
cada um de nós e que talvez estivesse precisando de um momento como esse para
ser lembrado.