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Sexta-Feira, 10 de Maio de 2019 às 11:40

Inquérito de acidente com morte "comemora" três anos sem conclusão

O delegado Airton Honório, que instaurou o inquérito, se aposentou. Quem assumiu o caso foi o delegado Vinícius de Carvalho, que afirmou à reportagem não saber se a investigação é dele. "Escrivão está de férias e não tenho como saber".

Duração: 04:22

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Nesta sexta-feira, 10, completa três anos que o inquérito policial 528 foi instaurado para investigar um acidente de trânsito com morte e não foi concluído.

Há 36 meses a família do padeiro Luciano Veiga Sabiá vive o luto da perda do trabalhador que saia cedo de casa todos os dias para sustentar a mulher e dois filhos menores. São 1095 dias sem resposta da Polícia Civil.

Foi num domingo, dia em que a maioria das pessoas está descansando, que Luciano, a caminho da padaria onde trabalhava, foi violentamente atropelado por um veículo Ford Fusion ocupado por três homens. O padeiro foi lançado a vários metros de distância e morreu no local do acidente. O motorista e os passageiros do carro fugiram, mas não sem antes dispensar no córrego Borá diversas latas de cerveja. No porta-mala do veículo havia duas caixas térmicas ainda com gelo.

No dia 10 de maio de 2016, o delegado Airton Douglas Honório, do 5º Distrito Policial, instaurou inquérito para investigar homicídio culposo na direção de veículo automotor, fuga do local de acidente e fraude processual.

O Código de Processo Penal estabelece que o inquérito policiai tem prazo de 30 dias para ser concluído, tempo que pode ser prorrogado com autorização judicial. A reportagem apurou que durante três anos, pelo menos sete pedidos de prazo foram feitos à juíza Luciana Cochito, da 1ª Vara Criminal.

Não bastasse isso, o delegado Airton se aposentou e o inquérito foi transferido para o delegado Vinícius de Carvalho.

A viúva de Luciano, Eloysa Pais Pedro, jamais conseguiu uma notícia sobre o andamento da investigação.

Até o advogado da família, Jean Carlos Pereira, foi ignorado na delegacia.

Sem respostas, o defensor, que move processo cível pleiteando indenização do motorista do Fusion, provocou o estado para explicar a morosidade da investigação.

A reportagem procurou pessoalmente o delegado Vinícius de Carvalho na quarta-feira, 08, que afirmou não saber se o inquérito está sob a responsabilidade dele. Incitado a verificar, alegou que o escrivão responsável está de férias e que não tem acesso ao documento até o retorno do funcionário público, previsto para 17 de maio.

O ouvidor das policias, Benedito Mariano, também quer explicações sobre a demora.

"Inquérito de acidente de trânsito com morte costuma ser concluído mais rapidamente", apontou. 

A Delegacia Seccional é o órgão de controle direto dos Distritos Policiais. Questionado sobre o prazo excessivo e se, na ausência do escrivão, a investigação fica prejudicada, o delegado assistente Alexandre Arid, que representa a Polícia Civil de Rio Preto na ausência do titular Silas José dos Santos, respondeu:

Quanto aos questionamentos feitos, esclareço que o Inquérito Policial citado, está tramitando no Núcleo de Polícia Judiciária, formado pelos 1º, 2º e 5º Distritos Policiais, tendo como Presidente do feito o Exmo. Dr. Vinicius Antonio de Carvalho. O trabalho policial nunca é interrompido, ou seja, a Polícia Civil executa atos investigativos 24 horas por dia, independentemente de um policial estar de férias, sendo certo que sempre há substituto para  seu afastamento legal. Segundo consta, a investigação do caso em questão apresentou uma complexidade diferenciada, demandando a prática de diversos atos investigativos específicos, que, por isso, estão sob sigilo, impedindo sua divulgação, até por conta da existência da Portaria DGP 30/1997. Vale salientar que o tempo de investigação varia de acordo com a dificuldade da apuração e com a convicção do Delegado de Polícia. A prorrogação do prazo de investigação é permitida pelo Código de Processo Penal, sendo certo que, mensalmente, o prosseguimento é autorizado pelo Juiz de Direito, com a anuência do Promotor de Justiça, que analisam o conteúdo das diligências executadas.

Questionada, a Secretaria de Segurança Pública informou que o inquérito não foi concluído devido à complexidade do fato e a necessidade de minuciosa investigação, com a análise de diversos exames periciais e dos depoimentos de testemunhas. O caso segue sob segredo de Justiça.

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