Uma falha de comunicação impediu a Polícia Civil de iniciar,
na sexta-feira, 12, as investigações sobre, até então, uma tentativa de
homicídio praticada contra a desempregada Bruna Fernandes Basconi, de 34 anos,
baleada na cabeça, no bairro Nova Esperança.
A Central de Flagrantes só foi informada do caso na noite de
sábado, 13, quando o Hospital de Base enviou e-mail, às 18h33, comunicando a
morte cerebral da paciente. Até aquele momento, não havia nenhum registro sobre
o grave caso de violência contra a mulher.
A reportagem da CBN apurou que Bruna deu entrada no HB às
4h21 de sexta-feira.
Ela foi socorrida por equipe do SAMU até a UPA Santo Antônio
e, de lá, transferida para o Hospital de Base por viatura da USA.
A Secretaria de Saúde de Rio Preto ainda não confirmou
oficialmente a informação.
A ocorrência exigia a presença da Polícia Militar,
responsável por preservar a área, de peritos do Instituto de Criminalística,
para analisar o cenário e coletar provas, e do delegado plantonista da Central
de Flagrantes, autoridade da polícia judiciária encarregada de registrar o
boletim de ocorrência sobre o crime.
A Delegacia de Homicídios da Deic, que investiga
assassinatos cuja autoria é desconhecida, também não foi comunicada a tempo do caso.
No resumo clínico, consta que a paciente foi intubada no
local da ocorrência. Ela deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital de Base como
vítima de agressão e ferimento no crânio, provocado por arma de fogo.
Bruna permaneceu internada na UTI da neurologia até a
constatação da morte cerebral, cujo protocolo foi finalizado às 12h50 de
sábado. A Central de Flagrantes só recebeu o e-mail do HB seis horas depois.
Como a família de Bruna autorizou a doação de órgãos, até o
fechamento desta matéria, o corpo ainda não tinha sido liberado para velório.
Um irmão da vítima foi contatado via mensagem no Facebook.
Ele visualizou, mas não respondeu.
Bruna deixa uma filha de apenas 1 ano e 10 meses.
Jurada de morte
Consta nos arquivos policiais que Bruna era vítima de
extrema violência por parte do companheiro, tendo denunciado o homem em duas
oportunidades.
O primeiro boletim de ocorrência foi registrado em novembro
de 2018, na cidade de Onda Verde. Na ocasião, ela estava grávida de três meses
e mantinha união estável com o homem há sete meses. Ela afirmou que desde o
início do relacionamento era agredida e que, em certa ocasião, o companheiro,
um auxiliar de serviços gerais de 24 anos, colocou a faca em seu pescoço,
provocando lesão. A gota d’água para a vítima foi ter sido chutada nas pernas
quando estava grávida, só porque tentou libertar um cavalo que pertence ao
homem. O animal tinha se enroscado na corda.
Bruna tentou fugir para a casa da mãe, que mora em Rio
Preto, mas o agressor a encontrou na rodoviária e, pelas costas, agrediu a
mulher com um soco na cabeça.
Ela foi socorrida para o Pronto socorro de Onda Verde e a
Polícia Militar foi acionada.
Nem a presença dos agentes inibiu o auxiliar de continuar
ameaçando a companheira de morte.
O casal foi levado para a delegacia da cidade, onde Bruna
representou criminalmente contra o homem e pediu medida protetiva.
No ano seguinte, em setembro de 2019, a vítima compareceu na
Delegacia de Defesa da Mulher, em Rio Preto, para registrar que recebeu um
áudio do ex-companheiro em que ele dizia que iria comprar um revólver calibre
38 e andar Rio Preto inteira até encontrá-la.
A vítima descrevia o homem como dependente químico e
extremamente violento.
Ele foi preso por tráfico de drogas no mês seguinte, quando
Policiais Civis cumpriam mandado de busca e apreensão na casa dele, em Onda
Verde.
Em pesquisa ao site do Tribunal de Justiça, consta que o suspeito foi condenado a sete anos de reclusão e permanece preso até o momento.
QUEM NÃO COMUNICOU?
É procedimento, em ocorrências de homicídio ou tentativa de
homicídio, que a Polícia Civil, através da Central de Flagrantes, seja
comunicada da ocorrência pelas equipes que chegam primeiro ao endereço. Em
algumas situações, a ambulância é a primeira a chegar. Cabe aos socorristas
comunicarem a Polícia Militar, que aciona uma equipe para preservar o local,
enquanto avisa o plantão policial sobre o crime, já que a ocorrência exige a
presença de investigadores.
Quando a PM é quem comparece primeiro no local, os policiais
militares do COPOM retransmitem à Polícia Civil o chamado sobre o homicídio.
A reportagem da rádio CBN procurou neste domingo a
Secretaria de Saúde e aguarda confirmação sobre a participação da viatura do
SAMU na ocorrência. Também foi questionado por quê nem os socorristas, nem os funcionários da UPA Santo Antônio acionaram a polícia.
A Polícia Militar informou em nota que não há registro de chamada relacionada ao endereço da vítima, nem ao nome dela, nos dias 12 e 13 de fevereiro.
Já a assessoria de imprensa do HB informou em nota que "