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Domingo, 14 de Fevereiro de 2021 às 13:20

Falha na comunicação atrasa investigação da Polícia Civil sobre homicídio

Bruna Fernandes Basconi (foto) foi baleada na cabeça na manhã de sexta-feira, mas a Central de Flagrantes só tomou conhecimento do crime às 18h de sábado, quando o Hospital de Base comunicou o óbito da paciente.

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Uma falha de comunicação impediu a Polícia Civil de iniciar, na sexta-feira, 12, as investigações sobre, até então, uma tentativa de homicídio praticada contra a desempregada Bruna Fernandes Basconi, de 34 anos, baleada na cabeça, no bairro Nova Esperança.

A Central de Flagrantes só foi informada do caso na noite de sábado, 13, quando o Hospital de Base enviou e-mail, às 18h33, comunicando a morte cerebral da paciente. Até aquele momento, não havia nenhum registro sobre o grave caso de violência contra a mulher.

A reportagem da CBN apurou que Bruna deu entrada no HB às 4h21 de sexta-feira.

Ela foi socorrida por equipe do SAMU até a UPA Santo Antônio e, de lá, transferida para o Hospital de Base por viatura da USA.

A Secretaria de Saúde de Rio Preto ainda não confirmou oficialmente a informação.

A ocorrência exigia a presença da Polícia Militar, responsável por preservar a área, de peritos do Instituto de Criminalística, para analisar o cenário e coletar provas, e do delegado plantonista da Central de Flagrantes, autoridade da polícia judiciária encarregada de registrar o boletim de ocorrência sobre o crime.

A Delegacia de Homicídios da Deic, que investiga assassinatos cuja autoria é desconhecida, também não foi comunicada a tempo do caso.  

No resumo clínico, consta que a paciente foi intubada no local da ocorrência. Ela deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital de Base como vítima de agressão e ferimento no crânio, provocado por arma de fogo.

Bruna permaneceu internada na UTI da neurologia até a constatação da morte cerebral, cujo protocolo foi finalizado às 12h50 de sábado. A Central de Flagrantes só recebeu o e-mail do HB seis horas depois.

Como a família de Bruna autorizou a doação de órgãos, até o fechamento desta matéria, o corpo ainda não tinha sido liberado para velório.

Um irmão da vítima foi contatado via mensagem no Facebook. Ele visualizou, mas não respondeu.

Bruna deixa uma filha de apenas 1 ano e 10 meses.

 

Jurada de morte

 

Consta nos arquivos policiais que Bruna era vítima de extrema violência por parte do companheiro, tendo denunciado o homem em duas oportunidades.

O primeiro boletim de ocorrência foi registrado em novembro de 2018, na cidade de Onda Verde. Na ocasião, ela estava grávida de três meses e mantinha união estável com o homem há sete meses. Ela afirmou que desde o início do relacionamento era agredida e que, em certa ocasião, o companheiro, um auxiliar de serviços gerais de 24 anos, colocou a faca em seu pescoço, provocando lesão. A gota d’água para a vítima foi ter sido chutada nas pernas quando estava grávida, só porque tentou libertar um cavalo que pertence ao homem. O animal tinha se enroscado na corda.

Bruna tentou fugir para a casa da mãe, que mora em Rio Preto, mas o agressor a encontrou na rodoviária e, pelas costas, agrediu a mulher com um soco na cabeça.

Ela foi socorrida para o Pronto socorro de Onda Verde e a Polícia Militar foi acionada.

Nem a presença dos agentes inibiu o auxiliar de continuar ameaçando a companheira de morte.

O casal foi levado para a delegacia da cidade, onde Bruna representou criminalmente contra o homem e pediu medida protetiva.

No ano seguinte, em setembro de 2019, a vítima compareceu na Delegacia de Defesa da Mulher, em Rio Preto, para registrar que recebeu um áudio do ex-companheiro em que ele dizia que iria comprar um revólver calibre 38 e andar Rio Preto inteira até encontrá-la.

A vítima descrevia o homem como dependente químico e extremamente violento.

Ele foi preso por tráfico de drogas no mês seguinte, quando Policiais Civis cumpriam mandado de busca e apreensão na casa dele, em Onda Verde.

Em pesquisa ao site do Tribunal de Justiça, consta que o suspeito foi condenado a sete anos de reclusão e permanece preso até o momento.

Bruna não registra antecedentes criminais. 


QUEM NÃO COMUNICOU?

É procedimento, em ocorrências de homicídio ou tentativa de homicídio, que a Polícia Civil, através da Central de Flagrantes, seja comunicada da ocorrência pelas equipes que chegam primeiro ao endereço. Em algumas situações, a ambulância é a primeira a chegar. Cabe aos socorristas comunicarem a Polícia Militar, que aciona uma equipe para preservar o local, enquanto avisa o plantão policial sobre o crime, já que a ocorrência exige a presença de investigadores.

Quando a PM é quem comparece primeiro no local, os policiais militares do COPOM retransmitem à Polícia Civil o chamado sobre o homicídio.

A reportagem da rádio CBN procurou neste domingo a Secretaria de Saúde e aguarda confirmação sobre a participação da viatura do SAMU na ocorrência. Também foi questionado por quê nem os socorristas, nem os funcionários da UPA Santo Antônio acionaram a polícia.

A Polícia Militar informou em nota que não há registro de chamada relacionada ao endereço da vítima, nem ao nome dela, nos dias 12 e 13 de fevereiro.

Já a assessoria de imprensa do HB informou em nota que "O Hospital de Base de Rio Preto atendeu a paciente transferida da unidade de pronto atendimento (UPA) do bairro Santo Antônio.  Cabe ao serviço de saúde que realiza o primeiro atendimento comunicar o fato à polícia."

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